13 de abril de 2007

A SEMANA

A Semana de Arte Moderna aconteceu durante os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Cada dia da Semana foi dedicado a um tema: pintura e escultura, poesia e literatura e por fim, música. Apesar de ser conhecida como a Semana da Arte Moderna, as exposições aconteceram somente nesses três dias:






13 de fevereiro (Segunda-feira)

ROTEIRO

1ª PARTE

  • Conferência de Graça Aranha: "A emoção estética na arte moderna", ilustrada com música executada por Ernani Braga e poesia de Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho.
  • Música de câmara: Villa-Lobos, Sonata II para violoncelo e piano (1916), com Alfredo Gomes e Lucília Villa-Lobos; Trio Segundo para violino, violoncelo e piano (1916), com Paulina d'Ambrósio, Alfredo Gomes e Fructuoso de Lima Vianna.

2ª PARTE

  • Conferência de Ronald de Carvalho: "A pintura e a escultura moderna no Brasil".
  • Solos de piano por Ernani Braga: "Valsa Mística" (1917, da Simples Coletânea);
  • Rodante" (da Simples Coletânea); A fiandeira.
  • Octeto (Três danças africanas): "Farrapos" (1914, "Danças dos moços"); "Kankukus" (1915, "Danças dos velhos"); "Kankikis" (1916, "Danças dos meninos").
  • Violinos: Paulina d'Ambrosio, George Marinuzzi.
  • Alto: Orlando Frederico.
  • Violoncelos: Alfredo Gomes; baixo: Alfredo Corazza.
  • Flauta: Pedro Vieira.
  • Clarinete:Antão Soares.
  • Piano: Fructuoso de Lima Vianna.


  • O Teatro Municipal de São Paulo estava cheio para a abertura oficial do evento. Pelo saguão do teatro foram espalhadas várias pinturas e esculturas que provocam reações de espanto e repúdio por parte do público.O espetáculo foi aberto com a conferência de abertura de Graça Aranha, intitulada 'A Emoção Estética na Arte Moderna'. Na conferência ele elogiou os trabalhos expostos, investiu contra o academicismo, criticou a Academia Brasileira de Letras e proclamou os artistas da Semana como personagens atuantes na "libertação da arte".
  • A música de Ermani Braga fez uma crítica a Chopin('A Emoção Estética na Arte Moderna') - o que levaria a pianista Guiomar Novaes a protestar publicamente contra os organizadores da semana.
  • A noite prosseguiu com a conferência 'A Pintura e a Escultura Moderna do Brasil', de Ronald Carvalho, três solos de piano de Ermani Braga e três daças africanas de Villa-Lobos.





15 de fevereiro (Quarta-feira)

ROTEIRO

1ª PARTE
  • Palestra de Minotti del Picchia, ilustrada com poesias e trechos de prosa por Oswald de Andrade, Luiz Aranha, Sérgio Milliet, Tácito de Almeida, Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Agenor Barbosa e dança pela senhorita Yvonne Daumerie.
  • Solos de piano por Guiomar Novaes:
  1. Blanchet: Au jardin du vieux Sérail.
  2. Villa-Lobos: O ginete do pierrozinho.
  3. Debussy: La soirée dans Grenade.
  4. Debussy: Minstrels.
INTERVALO
  • Palestra de Mário de Andrade de Andrade no saguão do Teatro.
2ª PARTE
  • Conferência de Ronald de Carvalho: "A pintura e a escultura moderna no Brasil".
  • Palestra de Renato Almeida:"Perennis poesia"
  • Canto e piano por Frederico Nascimento Filho e Lucília Villa-Lobos: Festim Pagão(1919); Solidão (1920); CascavelQuarteto terceiro (cordas, 1916). (1917);
  • Violinos: Paulina d'Ambrosio, George Marinuzzi.
  • Alto: Orlando Frederico.
  • Violoncelos: Alfredo Gomes.

  • Municipal estava aberto desde o início da tarde para o público visitar a mostra de artes plásticas e arquitetura, montada no saguão do Teatro. Diante das telas a reação dominante foi o choque e a indignação. Também as esculturas de Brecheret não mereceram do “respeitável público” outro comentário que não fosse a crítica intolerante e preconceituosa.
  • A "atração" dessa noite foi a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta os novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos...) que se alternam e confundem com aplausos.
  • A vaia iniciou-se novamente quando Mário de Andrade, em pé na escadaria interna do Teatro Municipal, leu algumas páginas de “A Escrava que não é Isaura”, esboço de um futuro trabalho sobre poética moderna, onde o autor se referia ao "belo horrível" e evocava a necessidade do abrasileiramento da língua e da volta ao nativismo.
  • Mas a grande atração foi mesmo quando Ronald Carvalho leu 'Os Sapos', de Manoel Bandeira, numa crítica aberta ao modelo parnasiano, o público fez um coro ironizando o refrão 'foi! Não foi! Foi!'. Veja o poema a seguir:
Enfunando os sapos,
saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos
A luz os deslumbra. Em ronco que
aterra,
Borra o sapo-boi:
Meu pai foi à guerra!
Não foi! - Foi! - Não Foi! O sapo-
tanoeiro
Parnasiano aguado,
Diz: -Meu cancioneiro é bem martelado. O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio. Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a forma:
Reduzi sem danos
A formas e a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...

Urra o sapo-boi:
- Meu pai foi rei! - Foi!
- Não foi! - Foi! - Não foi!
Brada era um assomo
O sapo tanoeiro
A grande arte é como lavor de joalheiro Outros, sapos-pipas
(Um mal cabe em si)
Falam pelas tripas
- Sei! - Não sabe! - Sabe! Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é Que soluças tu,
Transido de frio
Sapo-cururu
Da beira do rio...







17 de fevereiro (Sexta-feira)

ROTEIRO

1ª PARTE

  • Villa-Lobos:Trio Terceiro para violino, violoncelo e piano (1918), com Paulina d'Ambrosio, Alfredo Gomes e Lucília Villa-Lobos.
  • Canto e piano por Maria Emma e Lucília Villa-LobosHistorietas, de Ronald de Carvalho (1920): "Lune d'octobre"; "Voilà la vie".
  • "Jouis dans retard, car vite s'sécoule la vie".
  • Sonata II para violino e piano (1914), com Paulina d'Ambrosio e Fructuoso de Lima Vianna.

2ª PARTE

  • Solos de piano por Ernani Braga: "Camponesa cantadeira" (1916, da Suíte floral); "Num berço encantado" (1919, da Simples Coletânea); Dança infernal (1920).
  • Quarteto Simbólico (expressões da vida mundana): flauta, saxofone, celesta e harpa ou piano com vozes femininas em coro oculto (1921), com Pedro Vieira, Antão Soares, Ernani Braga e Fructuoso de Lima Vianna.

  • A tranqüilidade prevaleceu, com apenas metade do público aplaudindo o programa musical, baseado num repertório já conhecido de Villa-Lobos.
  • Quando Heitor Villa-Lobos, como bom maestro, entrou no palco usando a devida casaca, mas arrastando chinelos e um guarda-chuva como bengala, o público volta a vaiar, indignado com o acinte desta atitude futurista. E não era nada disso: casualmente, o compositor fora atacado de ácido úrico nos pés e não podia calçar sapatos.


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