13 de abril de 2007

MANIFESTOS E REVISTAS

A união em prol da revolução, porém, não tardou a corromper-se e, entre 1922 e 1928, multiplicaram-se os grupos rivais, os manifestos antagônicos e as inúmeras tendências que marcaram o período. Às diretrizes indefinidas da revista Klaxo, seguiram-se o Manifesto Pau-Brasil de Oswald de Andrade e as tendências nacionalistas lideradas por Plínio Salgado, para culminar com a Antropofagia, também de Oswald que liquidou com as tentativas de unificar o movimento modernista. Se a guerra ideológica fragmentou o movimento, é possível afirmar que em seu conjunto essa fragmentação possibilitou uma abordagem completamente diversificada da vida brasileira.

Manifestos

Durante os movimentos primitivistas iniciou-se um novo período de nacionalismo, porém não como o romântico, e sim com uma perspectiva crítica e debochada. A saída é a celebração de nossas raízes, indígenas e extra-européias, nos mitos e lendas da cultura popular. Buscaram mostrar o Brasil como a síntese entre o primitivo e o inovador: a alegria e a vida sem repressão indígena com a modernidade. Os movimentos mais fortes foram o Pau Brasil e a Antropofagia, criados por Oswald de Andrade.


Pau-Brasil

O movimento surgiu em 1925 com a publicação do livro de poesias Pau-Brasil de Oswald.

“- A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica.

A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.”

O movimento Pau-Brasil apresentou uma proposta de literatura vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil. A seguir veja algumas de suas caracteristicas:

·Cultuava o Brasil como a junção do arcaico e do moderno;

·Criticava com ironias o bacharelismo e o parnasianismo;

·Lutava por uma nova linguagem tipicamente brasileira, sem obrigações de pontuação, regras;

·A abordagem de temas populares;

·Quem mais centrou-se no movimento foi Oswald de Andrade.

Antropofagia

O Movimento Antropofágico, de 1928, liderado por Oswald de Andrade é uma resposta às questões colocadas pela Semana de Arte Moderna de 1922. Para ele, a renovação da arte nasceria a partir da retomada dos valores indígenas, da liberação do instinto e da valorização da inocência.
O Movimento é um desdobramento mais radical do Pau Brasil e uma retomada do Movimento Tropicalista, da década de 1960. O objetivo de Oswald de Andrade era a de “uma atitude brasileira de devoração ritual dos valores europeus, a fim de superar a civilização patriarcal e capitalista, com suas normas rígidas no plano social e os seus recalques impostos, no plano psicológico” (Antonio Candido).
O manifesto antropofágico colocou em questão o capitalismo do terceiro mundo: a dependência. Denunciou o bacharelismo das camadas cultas que copiavam os países capitalistas hegemônicos.
Quem mais centrou-se foi Mario de Andrade, com Macunaíma.
Apesar das mudanças e da evolução do país em vários aspectos, o Brasil que Oswald de Andrade escreveu o Manifesto Antropofágico é ainda o mesmo Brasil de hoje: dependente. Dessa forma podemos dizer que o manifesto antropofágico é um movimento que instalou-se de maneira forte e duradoura na cultura brasileira.



Verde Amarelismo

Respondia ao nacionalismo do Pau-Brasil e criticava o “nacionalismo afrancesado” de Oswald. Sua proposta era de um nacionalismo primitivista, ufanista, identificado com o fascismo, evoluindo para o Integralismo de Plínio Salgado (década de 30). Idolatria do tupi e anta eleita símbolo nacional. Em maio de 1929, o grupo verde-amarelista publica o manifesto “Nhengaçu Verde-Amarelo - Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta”.



Manifesto Regionalista

A difusão do Modernismo pelos estados brasileiros ocorre durante o período de 1925. Nesse sentido, o Centro Regionalista do Nordeste (Recife) busca desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste nos novos moldes modernistas. Propõem trabalhar em favor dos interesses da região, além de promover conferências, exposições de arte, congressos etc. Para tanto, editaram uma revista. O regionalismo nordestino conta com Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e João Cabral - na 2ª fase modernista.


Revistas

Klaxon

A Klaxon - Mensário de Arte Moderna - foi a primeira revista Modernista do Brasil e começou a circular logo após a realização da Semana de Arte Moderna. O primeiro, dos seus nove números, foi publicado em 15 de maio de 1922 e o último em janeiro de 1923. A palavra Klaxon, segundo o Dicionário, é de origem inglesa e seu significado é "Buzina de Automóvel". Por isso e por estar sempre aberta à experimentação, pode-se dizer que a Klaxon anunciava, de forma barulhenta, as novidades do mundo moderno.
O principal propósito da revista foi servir de divulgação para o movimento modernista, e nela colaboraram nomes como Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha, entre outros artistas e escritores.
Além disso, também eram publicados ensaios, crônicas, críticas de arte, piadas, gravuras e anúncios sérios como os da "Lacta", que contrastavam com anúncios satíricos como os da "Panthosopho, e Pateromnium & Cia", uma empresa que fabricava sonetos.
A revista Klaxon foi inovadora em todos os sentidos: gráfico, existência de publicidade, oposição entre o velho e o novo. O edital do primeiro número da revista, assinado por vários colaboradores, afirmava os caminhos que os modernistas pretendiam seguir. Abaixo você encontra alguns trechos desse edital.

"Klaxon sabe que a vida existe.

E, aconselhado por Pascal, visa o presente.

Klaxon não se preocupará de ser novo, mas de ser atual.

Essa é a grande lei da novidade. (...)

Klaxon sabe que o progresso existe.

Por isso, sem renegar o passado, caminha para adiante, sempre, sempre. (...)

Klaxon não é exclusivista.

Apesar disso jamais publicará inéditos maus de bons escritores já mortos.

Klaxon não é futurista.

Klaxon é Klaxista. (...)

Klaxon cogita principalmente de arte. Mas quer representar a época de 1920 em diante.

Por isso é polimorfo, onipresente, inquieto, cômico, irritante, contraditório, invejado, insultado, feliz."


Revista Antropofagia

A Revista de Antropofagia foi uma publicação surgida como conseqüência do Manifesto Antropófago escrito por Oswald de Andrade. Ela teve duas fases (dentições): a primeira com 10 números (1928 e 1929); a segunda foi publicada semanalmente em 16 números no jornal Diário de São Paulo (1929). É uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e resposta ao grupo Verde-amarelismo. A origem do nome movimento esta na tela “Abaporu” de Tarsila do Amaral.

  • 1ª fase - A revista está ainda marcada por uma consciência ingênua não muito distante da que informou o modernismo klaxista, apesar dos seis anos decorridos. Ela inicia-se com o polêmico manifesto de Oswald e conta com Alcântara Machado, Mário de Andrade (2º número publicou um capítulo de Macunaíma), Carlos Drummond (3º número publicou a poesia “No meio do caminho”); além de desenhos de Tarsila, artigos em favor da língua tupi de Plínio Salgado e poesias de Guilherme de Almeida.
  • 2ª fase - Mais definida ideologicamente, com ruptura de Oswald e Mário de Andrade. Estão nessa segunda fase Oswald, Bopp, Geraldo Ferraz, Oswaldo Costa, Tarsila, Patrícia Galvão (Pagu). Nessa segunda fase a agressividade de Oswald causou uma ruptura com vários colaboradores da Revista, como por exemplo: Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.

Os "antropófagos" passaram a direcionar suas críticas contra: à sociedade, à cultura em geral e à história do Brasil.

Confira abaixo uma crítica publicada na Revista de Antropofagia direcionada contra a Escola da Anta:

“SÓ A ANTROPOFAGIA nos une, Socialmente.

Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo.

Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos.

De todas as religiões.

De todos os tratados de paz.

Tupi or not tupi, that is the question.”

(Manifesto Antropófago)

Outras Revistas Modernistas...

  • Revista Estética (RJ - 1924)
  • Revista Terra Roxa e outras Terras (SP - 1926, colaborador Mário de Andrade)
  • A Revista (1925-1926)
  • Revista Festa (RJ - 1927, Cecília Meireles como colaboradora)
  • Revista Verde de Cataguazes (MG - 1927-1928)

5 comentários:

Fabiano Tadeu Grazioli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabiano Tadeu Grazioli disse...

Caras alunas!

Gostei muito, está bem completo!!!

Um abraço.

Professor Fabiano Grazioli

Unknown disse...

Gostaria de saber o nome dos autores do texto, pois pretendo utilizá-lo como apoio em sala de aula e acho imprescindível citar a referência completa do blog.
Sou professora de Arte do Ensino Fundamental e Médio e agradeço muito a contribuição de vocês.

Maysa Nara Eisenbach

Acervo Terrestre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Acervo Terrestre disse...

O texto ta bem bacana, mas infelizmente tem um erro bem notável. Ao falar de antropofagia "O Movimento é um desdobramento mais radical do Pau Brasil e uma retomada do Movimento Tropicalista, da década de 1960". Sim, o tropicalismo aconteceu na década de 60, mas não pode ser uma retomada do manifesto antropofágico porque este foi publicado na revista "Antropofagia" em 1928. É o tropicalismo que retoma o manifesto antropófago.
Mas eu gostei. Valeu ;)