13 de abril de 2007

SINTESE

A Semana de 1922 representa o marco do lançamento público do Modernismo Brasileiro, uma vez que os artistas que lá exibiam suas obras tinham como objetivos a ruptura com as tradições acadêmicas, a atualização das artes e da literatura brasileiras em relação aos movimentos de vanguarda europeus e o encontro de uma linguagem autenticamente nacional, queriam acabar com a mania de falar difícil e não dizer nada.
A idéia era atualizar culturalmente o Brasil, trazendo as influências estrangeiras, colocando-o ao lado dos países que já haviam atingido sua independência no plano das idéias, das artes plásticas, da música e da literatura. A partir dela, iniciou-se uma década de polêmicas, provocações, invenções, brigas estéticas, enfim, uma farra que parecia inesgotável. O Modernismo não surgiu como um estilo passível a ser definido formalmente, mas como uma postura frente à história, como ansiedade de renovação artística cultural, social e política. O próprio grupo de artistas plásticos que aderira ao movimento não deixava de refletir a pluralidade e diversidade da vida brasileira. O texto passa a ser mais coloquial, deixando de lado a linguagem culta, admitindo-se até mesmo o uso de gírias. O uso de rimas e métricas perfeitas na poesia não são mais obrigatórias, possibilitando versos mais livres.
Ato de rebeldia e de fé no futuro, a Semana vale muitas festas. Como se sabe, vários países ingressaram na modernidade pelos solavancos de revoluções políticas. Outros o fizeram através de reformas sociais.
Naquelas três noites de fevereiro, entre aplausos e vaias do Teatro Municipal de São Paulo, abrigo da tradicional elite paulista, um grupo de intelectuais de um país historicamente dividido deu um salto para colocar-se à altura de sua etapa histórica. Mostraram-se capazes de unir passado e presente, aristocracia e espírito democrático, herança e rebelião. O mundo das ruas começou a ser ouvido e homens simples do povo tornaram-se cidadãos de primeira classe. Num país de cartola, fraque, voto de cabresto e exclusão, a busca do novo converteu-se em uma fúria rara e saudável.
Examinados a distância, os homens e as mulheres de 1922 não diferem muito do retrato que deles faziam os contemporâneos mais jovens. Tornou-se costume, de uns tempos para cá, examinar a Semana de 22 com os olhos do equilíbrio e da sisudez, em balanços críticos que procuram contabilizar obras-primas por centímetro quadrado. A desmistificação e a crítica são saudáveis heranças modernistas, mas cabe uma observação. Mais do que fábrica de obras de qualidade ou usina de talentos, a Semana de 22 entrou para a História porque foi uma semente e um furacão, uma aposta no futuro e um grito.O movimento modernista continuou a expandir-se por divulgações através da revista Antropofágica e da revista Klaxon, principalmente, e também pelos movimentos: Pau-Brasil, Verde- Amarelismo e pelo movimento Antropofágico.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Momento Histórico, mundial e nacional na época da Semana de 1922

Na Europa, a vanguarda modernista tem como marca o avanço tecnológico e científico do início do século XX. Nesse período, o cotidiano das pessoas sofre uma verdadeira revolução com a supervalorização do progresso e da máquina. O capitalismo entra em crise (1929), dando início à 1ª Guerra Mundial (1914-1918), encerrando a chamada belle époque. A seguir, a crise financeira, oriunda do conflito, leva à 2ª Guerra Mundial (1939-1945), e nos anos intermediários, conhecidos como "os anos loucos", as pessoas passam a conviver com a incerteza e com o desejo de viver somente o presente. Tais experiências despertam o anseio de interpretar e expressar a realidade de forma diferenciada, dando origem aos movimentos da vanguarda européia. Os mais importantes foram o futurismo, o cubismo, o dadaísmo e o surrealismo. As vanguardas passam a exercer influência sobre artistas e intelectuais brasileiros. Dessa forma, vão surgindo obras de autores jovens que, descontentes com a tradição acadêmica parnasiana, demonstram que a literatura brasileira está sofrendo um processo dinâmico de transformação. Três datas (1922, 1930 e 1945) marcam as diferentes fases desse movimento, iniciado com a Semana de Arte Moderna.


Contexto histórico da primeira fase (1922-1930)

Certas transformações foram responsáveis pela criação do ambiente propício à instalação das novas idéias, ressaltando-se o Centenário da Independência e a I Guerra Mundial (1914-1918), que favoreceu a expansão da indústria brasileira, promoveu novas relações políticas, além de abrir espaço para a renovação na educação e nas artes. Há, ainda, a grande influência da mão-de-obra imigrante, instalada no sul, centro de poder da vida econômica e política do país. Outros fatos importantes foram o triunfo da Revolução de Outubro de 1930, cujo levante se deu em 1922, e a fundação do Partido Comunista Brasileiro.Igualmente relevante, foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, levando à queda do café brasileiro na balança de exportação, nessa mesma data. Tal fato, desestabiliza, no Brasil, o grupo dirigente e abre espaço para o novo, dando legitimidade à arte e à literatura modernas, entendidas, a princípio, como "capricho". O país vive os últimos anos da República Velha, caracterizada pelo domínio político das oligarquias, formadas pelos grandes proprietários rurais. Em 1922, com a revolta do Forte de Copacabana, O Brasil entra num período revolucionário de fato, culminando com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas.


Contexto histórico da segunda fase (1930-1945)

No plano internacional, os fatos históricos que se destacam como os mais importantes são a Grande Depressão; a instalação da ditadura salazarista, em Portugal; o início da Guerra Civil Espanhola; a invasão da Polônia pela Alemanha, sob o comando de Adolf Hitler, resultando na 2ª Guerra Mundial; a invasão da ex-União Soviética pela Alemanha, em 1941, no mesmo ano em que os japoneses atacam aos Estados Unidos; a invasão da Itália, provocada pelos países aliados, em 1943; o fim da 2ª Guerra, em 1945, com a utilização da bomba atômica sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.


Contexto histórico da terceira fase (pós 1945)

As duas bombas lançadas covardemente sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, apenas evidenciaram um fato que há muito estava comprovado: a vitória dos aliados sobre os países do Eixo e o fim da 2ª Guerra Mundial. Começava, a partir de então, um confronto de duas nações e dois sistemas sócio-políticos que dividiria o mundo em duas partes e aumentaria o medo de uma outra guerra mais sanguinária, Estados Unidos versus União Soviética, ou, capitalismo versus socialismo.


São Paulo na época da Semana de Arte Moderna

A Semana de Arte Moderna de 1922 aconteceu sob calor e uma tempestade de vaias que dividiu a cultura brasileira. A São Paulo da Semana de Arte Moderna de 1922 ainda era uma cidade de taipa de pilão, com cerca de 500 mil habitantes, metade deles italianos e descendentes. No aglomerado onde todos pareciam se conhecer, havia 20 mil telefones e poucos automóveis nas ruas, que mal atingiam a Avenida Paulista. A pequena comunidade ressentia-se, paradoxalmente, do crescimento que registrara a partir do fim do século XIX. De 1890 a 1920, a população cresceu quase dez vezes e no ano de 1922, sofria com a falta de planejamento.

Os serviços sanitários eram deficientes e as vias não tinham pavimentação. O café movia São Paulo e o Brasil, respondendo por 70% das exportações.De um lado, havia a aristocracia cafeeira, com suas mansões nos Campos Elíseos, Higienópolis e Avenida Paulista. De outro, operários que moravam em cortiços do Brás, Bexiga e Barra Funda, trabalhavam dez horas por dia e lutavam por seus direitos, como ocorreu na greve de 1917. No centro, imigrantes enriquecidos que plantavam o parque industrial e logo casariam suas Concettinas e seus Gaetaninhos com os filhos da aristocracia. Ainda que o modernismo no Brasil deva ser pensado a partir de suas expressões múltiplas - no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco etc. - a Semana de Arte Moderna é um fenômeno eminentemente urbano e paulista, conectado ao crescimento de São Paulo na década de 1920, à industrialização, à migração maciça de estrangeiros e à urbanização.

ANTECEDENTES DA SEMANA


São Paulo dos anos 20 era a cidade que melhor apresentava condições para a realização de tal evento. Tratava-se de uma próspera cidade, que recebia grande número de imigrantes europeus e modernizava-se rapidamente, com a implantação de indústrias e reurbanização.Era, enfim, uma cidade favorável a ser transformada num centro cultural da época, abrigando vários jovens artistas. Ao contrário, o Rio de Janeiro, outro polo artístico, se achava impregnado pelas idéias da Escola Nacional de Belas-Artes, que, por muitos anos ainda, defenderia, com unhas e dentes, o academicismo.
Claro que existiam no Rio artistas dispostos a renovar, mas o ambiente não Ihes era propício, sendo-lhes mais fácil aderir a um movimento que partisse da capital paulista.
Os primórdios da arte moderna no Brasil:
Em 1913, estivera no Brasil, vindo da Alemanha, o pintor Lasar Segall. Realizou uma exposição em São Paulo e outra em Campinas, ambas recebidas com uma fria polidez. Desanimado, Segall seguiu de volta à Alemanha, só retomando ao Brasil dez anos depois, quando os ventos sopravam mais a favor.A exposição de Anita Malfatti em 1917, recém chegada dos Estados Unidos e da Europa, foi outro marco para o Modernismo brasileiro.Todavia, as obras da pintora, então afinadas com as tendências vanguardistas do exterior, chocaram grande parte do público, causando violentas reações da critica conservadora.A exposição, entretanto, marcou o início de uma luta, reunindo ao redor dela jovens despertos para uma necessidade de renovação da arte brasileira.Além disso, traços dos ideais que a Semana propunha já podiam ser notados em trabalhos de artistas que dela participaram (além de outros que foram excluídos do evento).Desde a exposição de Malfatti, havia dado tempo para que os artistas de pensamentos semelhantes se agrupassem.
Em1920, por exemplo, Oswald de Andrade já falava de amplas manifestações de ruptura, com debates abertos.
Em:
1911-Oswald de Andrade funda o periódico "O Pirralho".
1912-Oswald chega ao Brasil trazendo da Europa o conhecimento de novas formas de expressão artística, como as de Paul Fort e as sugeridas pelo "Manifesto Futurista" do poeta italiano Marinetti. Surgem as primeiras colagens ele Braque e Picasso, possíveis origens do cubismo.
1913-Exposição do pintor Lasar Segall em Campinas (São Paulo).
1914-O francês Marel Duchamp lança os ready-mades.
1915-O poeta Ronald de Carvalho participa no Rio da fundação da revista "Orfeu", dirigida em Portugal por Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro.
1917-Exposição de Anita Malfatti. O escritor Monteiro Lobato escreve o artigo "Paranóia ou Mistificação?", onde critica vigorosamente as inovações na pintura de Anita e se envolve em uma polêmica com os principais artistas do movimento modernista.
1918-É lançado o "Manifesto Dadá".
1919-Surgimento do Fascismo na Itália e adesão de Marinetti.
1920-Oswald de Andrade e Menotti del Picchia fundam a revista "Papel e Tinta". Graça Aranha publica "Estética da Vida". Victor Brecheret expõe as maquetes do monumento às Bandeiras (SP). Exposição de Anita Malfatti e John Graz.
1921-Oswald de Andrade publica "Meu Poeta Futurista" e Mário de Andrade responde com "Futurista?!". Mário publica o artigo "Mestres do Passado".





A SEMANA

A Semana de Arte Moderna aconteceu durante os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Cada dia da Semana foi dedicado a um tema: pintura e escultura, poesia e literatura e por fim, música. Apesar de ser conhecida como a Semana da Arte Moderna, as exposições aconteceram somente nesses três dias:






13 de fevereiro (Segunda-feira)

ROTEIRO

1ª PARTE

  • Conferência de Graça Aranha: "A emoção estética na arte moderna", ilustrada com música executada por Ernani Braga e poesia de Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho.
  • Música de câmara: Villa-Lobos, Sonata II para violoncelo e piano (1916), com Alfredo Gomes e Lucília Villa-Lobos; Trio Segundo para violino, violoncelo e piano (1916), com Paulina d'Ambrósio, Alfredo Gomes e Fructuoso de Lima Vianna.

2ª PARTE

  • Conferência de Ronald de Carvalho: "A pintura e a escultura moderna no Brasil".
  • Solos de piano por Ernani Braga: "Valsa Mística" (1917, da Simples Coletânea);
  • Rodante" (da Simples Coletânea); A fiandeira.
  • Octeto (Três danças africanas): "Farrapos" (1914, "Danças dos moços"); "Kankukus" (1915, "Danças dos velhos"); "Kankikis" (1916, "Danças dos meninos").
  • Violinos: Paulina d'Ambrosio, George Marinuzzi.
  • Alto: Orlando Frederico.
  • Violoncelos: Alfredo Gomes; baixo: Alfredo Corazza.
  • Flauta: Pedro Vieira.
  • Clarinete:Antão Soares.
  • Piano: Fructuoso de Lima Vianna.


  • O Teatro Municipal de São Paulo estava cheio para a abertura oficial do evento. Pelo saguão do teatro foram espalhadas várias pinturas e esculturas que provocam reações de espanto e repúdio por parte do público.O espetáculo foi aberto com a conferência de abertura de Graça Aranha, intitulada 'A Emoção Estética na Arte Moderna'. Na conferência ele elogiou os trabalhos expostos, investiu contra o academicismo, criticou a Academia Brasileira de Letras e proclamou os artistas da Semana como personagens atuantes na "libertação da arte".
  • A música de Ermani Braga fez uma crítica a Chopin('A Emoção Estética na Arte Moderna') - o que levaria a pianista Guiomar Novaes a protestar publicamente contra os organizadores da semana.
  • A noite prosseguiu com a conferência 'A Pintura e a Escultura Moderna do Brasil', de Ronald Carvalho, três solos de piano de Ermani Braga e três daças africanas de Villa-Lobos.





15 de fevereiro (Quarta-feira)

ROTEIRO

1ª PARTE
  • Palestra de Minotti del Picchia, ilustrada com poesias e trechos de prosa por Oswald de Andrade, Luiz Aranha, Sérgio Milliet, Tácito de Almeida, Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Agenor Barbosa e dança pela senhorita Yvonne Daumerie.
  • Solos de piano por Guiomar Novaes:
  1. Blanchet: Au jardin du vieux Sérail.
  2. Villa-Lobos: O ginete do pierrozinho.
  3. Debussy: La soirée dans Grenade.
  4. Debussy: Minstrels.
INTERVALO
  • Palestra de Mário de Andrade de Andrade no saguão do Teatro.
2ª PARTE
  • Conferência de Ronald de Carvalho: "A pintura e a escultura moderna no Brasil".
  • Palestra de Renato Almeida:"Perennis poesia"
  • Canto e piano por Frederico Nascimento Filho e Lucília Villa-Lobos: Festim Pagão(1919); Solidão (1920); CascavelQuarteto terceiro (cordas, 1916). (1917);
  • Violinos: Paulina d'Ambrosio, George Marinuzzi.
  • Alto: Orlando Frederico.
  • Violoncelos: Alfredo Gomes.

  • Municipal estava aberto desde o início da tarde para o público visitar a mostra de artes plásticas e arquitetura, montada no saguão do Teatro. Diante das telas a reação dominante foi o choque e a indignação. Também as esculturas de Brecheret não mereceram do “respeitável público” outro comentário que não fosse a crítica intolerante e preconceituosa.
  • A "atração" dessa noite foi a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta os novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos...) que se alternam e confundem com aplausos.
  • A vaia iniciou-se novamente quando Mário de Andrade, em pé na escadaria interna do Teatro Municipal, leu algumas páginas de “A Escrava que não é Isaura”, esboço de um futuro trabalho sobre poética moderna, onde o autor se referia ao "belo horrível" e evocava a necessidade do abrasileiramento da língua e da volta ao nativismo.
  • Mas a grande atração foi mesmo quando Ronald Carvalho leu 'Os Sapos', de Manoel Bandeira, numa crítica aberta ao modelo parnasiano, o público fez um coro ironizando o refrão 'foi! Não foi! Foi!'. Veja o poema a seguir:
Enfunando os sapos,
saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos
A luz os deslumbra. Em ronco que
aterra,
Borra o sapo-boi:
Meu pai foi à guerra!
Não foi! - Foi! - Não Foi! O sapo-
tanoeiro
Parnasiano aguado,
Diz: -Meu cancioneiro é bem martelado. O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio. Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a forma:
Reduzi sem danos
A formas e a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...

Urra o sapo-boi:
- Meu pai foi rei! - Foi!
- Não foi! - Foi! - Não foi!
Brada era um assomo
O sapo tanoeiro
A grande arte é como lavor de joalheiro Outros, sapos-pipas
(Um mal cabe em si)
Falam pelas tripas
- Sei! - Não sabe! - Sabe! Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é Que soluças tu,
Transido de frio
Sapo-cururu
Da beira do rio...







17 de fevereiro (Sexta-feira)

ROTEIRO

1ª PARTE

  • Villa-Lobos:Trio Terceiro para violino, violoncelo e piano (1918), com Paulina d'Ambrosio, Alfredo Gomes e Lucília Villa-Lobos.
  • Canto e piano por Maria Emma e Lucília Villa-LobosHistorietas, de Ronald de Carvalho (1920): "Lune d'octobre"; "Voilà la vie".
  • "Jouis dans retard, car vite s'sécoule la vie".
  • Sonata II para violino e piano (1914), com Paulina d'Ambrosio e Fructuoso de Lima Vianna.

2ª PARTE

  • Solos de piano por Ernani Braga: "Camponesa cantadeira" (1916, da Suíte floral); "Num berço encantado" (1919, da Simples Coletânea); Dança infernal (1920).
  • Quarteto Simbólico (expressões da vida mundana): flauta, saxofone, celesta e harpa ou piano com vozes femininas em coro oculto (1921), com Pedro Vieira, Antão Soares, Ernani Braga e Fructuoso de Lima Vianna.

  • A tranqüilidade prevaleceu, com apenas metade do público aplaudindo o programa musical, baseado num repertório já conhecido de Villa-Lobos.
  • Quando Heitor Villa-Lobos, como bom maestro, entrou no palco usando a devida casaca, mas arrastando chinelos e um guarda-chuva como bengala, o público volta a vaiar, indignado com o acinte desta atitude futurista. E não era nada disso: casualmente, o compositor fora atacado de ácido úrico nos pés e não podia calçar sapatos.


PARTICIPANTES E PATROCINADORES


Comitê patrocinador:
Di Cavalcanti, Clarice Lispector, Oswald e Mário de Andrade, Haroldo e Augusto de Campos, Anita Mafalti e Menotti Del Pichia -, e os colaboradores indiretos – Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, dentre outros.



Escritores: Mário de Andrade, Ronald de Carvalho, Álvaro Moreira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Ribeiro Couto, Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.




Pintura: Vicente do Rêgo Monteiro, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Oswaldo Goeldi, Zita Aita, John Graz, Ferrignac.



Arquitetura: Antonio Garcia Moya, Georg Przyrembel.




Escultura:Victor Brecheret, Hildegardo Leão Veloso, Haaberg.



Música e Dança: Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novaes (pianista), Hernani Braga e Frutuoso Viana.



Apesar das críticas e dos obstáculos, a Semana conseguiu o que pretendia: a divulgação aberta de que existia uma outra geração de artistas que lutava pela renovação da arte brasileira, rejeitando o tradicionalismo e as convenções antiquadas, contribuindo para dar um impulso decisivo à atualização da cultura no Brasil. Os idealizadores da Semana rejeitam a arte do século XIX (neoclassicismo e as academias) e as influências estrangeiras do passado. Defendem a absorção de algumas tendências estéticas internacionais para que elas se mesclem com a cultura nacional, originando uma arte vinculada à realidade brasileira. O evento escandaliza público e críticos.

REPERCURSSÃO DA SEMANA DA ARTE MODERNA

Há 85 anos, um grupo de conferencistas abriu uma das maiores manifestações culturais da história. A Semana de Arte Moderna reuniu artistas, músicos, poetas, escritores e pintores, ela prometia o novo, algo a ser recebido com uma certa curiosidade e interesse, mas não foi isso que aconteceu.
Na noite principal, enquanto Menotti Del Picchia expunha as características e objetivos do movimento, Mário de Andrade recitava a Paulicéia Desvairada sob vaias. Isso aconteceu com quase todos os artistas. Mas esse era o espírito do movimento: o deboche, a ironia, o bom humor, tudo fio condutor por onde os jovens intelectuais paulistas quebravam laços com os movimentos anteriores. Pode-se dizer que foram as vaias e os insultos que salvaram a semana, salvaram-na da irrelevância, desde o primeiro momento, transformando-a em "caso", em escândalo, e deram-lhe o ar de juvenil travessura responsável por seu eterno encanto.
A Semana que chocou a sociedade conservadora recebendo muitas críticas foi importantíssima para a renovação artística do Brasil, uma verdadeira revolução literária que estabelecia uma liberdade absoluta na arte. Um dos grandes objetivos deste evento foi situar a literatura brasileira na modernidade contemporânea. Isso só foi possível após um contato com as técnicas literárias e visões de mundo da vanguarda européia, provenientes do futurismo, do dadaísmo, do expressionismo e do surrealismo. A semana de 22 foi o primeiro passo para a arte brasileira de hoje, sem ela provavelmente nossa produção artística tivesse seguido um rumo diferente, e hoje não conheceríamos a tão cantada Garota de Ipanema.
E como os principais períodos da arte brasileira estão ligados às mudanças de regime ocorridas no País ao longo de sua existência. Era óbvio que um mês depois da SAM, a política viveria dois momentos importantes: eleições para Presidência da República e congresso (RJ) pa
ra fundação do Partido Comunista do Brasil.
Também em 1922 houve o episódio dos 18 do a Forte, a sangrenta marcha na Praia de Copacabana que marcou o início das revoltas militares contra a Republica Velha. Houve várias comemorações do centenário da Independência e a primeira transmissão de radio do Brasil. Ainda no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve entre seus fundadores Mário de Andrade. A fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido destruidor.





MANIFESTOS E REVISTAS

A união em prol da revolução, porém, não tardou a corromper-se e, entre 1922 e 1928, multiplicaram-se os grupos rivais, os manifestos antagônicos e as inúmeras tendências que marcaram o período. Às diretrizes indefinidas da revista Klaxo, seguiram-se o Manifesto Pau-Brasil de Oswald de Andrade e as tendências nacionalistas lideradas por Plínio Salgado, para culminar com a Antropofagia, também de Oswald que liquidou com as tentativas de unificar o movimento modernista. Se a guerra ideológica fragmentou o movimento, é possível afirmar que em seu conjunto essa fragmentação possibilitou uma abordagem completamente diversificada da vida brasileira.

Manifestos

Durante os movimentos primitivistas iniciou-se um novo período de nacionalismo, porém não como o romântico, e sim com uma perspectiva crítica e debochada. A saída é a celebração de nossas raízes, indígenas e extra-européias, nos mitos e lendas da cultura popular. Buscaram mostrar o Brasil como a síntese entre o primitivo e o inovador: a alegria e a vida sem repressão indígena com a modernidade. Os movimentos mais fortes foram o Pau Brasil e a Antropofagia, criados por Oswald de Andrade.


Pau-Brasil

O movimento surgiu em 1925 com a publicação do livro de poesias Pau-Brasil de Oswald.

“- A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica.

A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.”

O movimento Pau-Brasil apresentou uma proposta de literatura vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil. A seguir veja algumas de suas caracteristicas:

·Cultuava o Brasil como a junção do arcaico e do moderno;

·Criticava com ironias o bacharelismo e o parnasianismo;

·Lutava por uma nova linguagem tipicamente brasileira, sem obrigações de pontuação, regras;

·A abordagem de temas populares;

·Quem mais centrou-se no movimento foi Oswald de Andrade.

Antropofagia

O Movimento Antropofágico, de 1928, liderado por Oswald de Andrade é uma resposta às questões colocadas pela Semana de Arte Moderna de 1922. Para ele, a renovação da arte nasceria a partir da retomada dos valores indígenas, da liberação do instinto e da valorização da inocência.
O Movimento é um desdobramento mais radical do Pau Brasil e uma retomada do Movimento Tropicalista, da década de 1960. O objetivo de Oswald de Andrade era a de “uma atitude brasileira de devoração ritual dos valores europeus, a fim de superar a civilização patriarcal e capitalista, com suas normas rígidas no plano social e os seus recalques impostos, no plano psicológico” (Antonio Candido).
O manifesto antropofágico colocou em questão o capitalismo do terceiro mundo: a dependência. Denunciou o bacharelismo das camadas cultas que copiavam os países capitalistas hegemônicos.
Quem mais centrou-se foi Mario de Andrade, com Macunaíma.
Apesar das mudanças e da evolução do país em vários aspectos, o Brasil que Oswald de Andrade escreveu o Manifesto Antropofágico é ainda o mesmo Brasil de hoje: dependente. Dessa forma podemos dizer que o manifesto antropofágico é um movimento que instalou-se de maneira forte e duradoura na cultura brasileira.



Verde Amarelismo

Respondia ao nacionalismo do Pau-Brasil e criticava o “nacionalismo afrancesado” de Oswald. Sua proposta era de um nacionalismo primitivista, ufanista, identificado com o fascismo, evoluindo para o Integralismo de Plínio Salgado (década de 30). Idolatria do tupi e anta eleita símbolo nacional. Em maio de 1929, o grupo verde-amarelista publica o manifesto “Nhengaçu Verde-Amarelo - Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta”.



Manifesto Regionalista

A difusão do Modernismo pelos estados brasileiros ocorre durante o período de 1925. Nesse sentido, o Centro Regionalista do Nordeste (Recife) busca desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste nos novos moldes modernistas. Propõem trabalhar em favor dos interesses da região, além de promover conferências, exposições de arte, congressos etc. Para tanto, editaram uma revista. O regionalismo nordestino conta com Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e João Cabral - na 2ª fase modernista.


Revistas

Klaxon

A Klaxon - Mensário de Arte Moderna - foi a primeira revista Modernista do Brasil e começou a circular logo após a realização da Semana de Arte Moderna. O primeiro, dos seus nove números, foi publicado em 15 de maio de 1922 e o último em janeiro de 1923. A palavra Klaxon, segundo o Dicionário, é de origem inglesa e seu significado é "Buzina de Automóvel". Por isso e por estar sempre aberta à experimentação, pode-se dizer que a Klaxon anunciava, de forma barulhenta, as novidades do mundo moderno.
O principal propósito da revista foi servir de divulgação para o movimento modernista, e nela colaboraram nomes como Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha, entre outros artistas e escritores.
Além disso, também eram publicados ensaios, crônicas, críticas de arte, piadas, gravuras e anúncios sérios como os da "Lacta", que contrastavam com anúncios satíricos como os da "Panthosopho, e Pateromnium & Cia", uma empresa que fabricava sonetos.
A revista Klaxon foi inovadora em todos os sentidos: gráfico, existência de publicidade, oposição entre o velho e o novo. O edital do primeiro número da revista, assinado por vários colaboradores, afirmava os caminhos que os modernistas pretendiam seguir. Abaixo você encontra alguns trechos desse edital.

"Klaxon sabe que a vida existe.

E, aconselhado por Pascal, visa o presente.

Klaxon não se preocupará de ser novo, mas de ser atual.

Essa é a grande lei da novidade. (...)

Klaxon sabe que o progresso existe.

Por isso, sem renegar o passado, caminha para adiante, sempre, sempre. (...)

Klaxon não é exclusivista.

Apesar disso jamais publicará inéditos maus de bons escritores já mortos.

Klaxon não é futurista.

Klaxon é Klaxista. (...)

Klaxon cogita principalmente de arte. Mas quer representar a época de 1920 em diante.

Por isso é polimorfo, onipresente, inquieto, cômico, irritante, contraditório, invejado, insultado, feliz."


Revista Antropofagia

A Revista de Antropofagia foi uma publicação surgida como conseqüência do Manifesto Antropófago escrito por Oswald de Andrade. Ela teve duas fases (dentições): a primeira com 10 números (1928 e 1929); a segunda foi publicada semanalmente em 16 números no jornal Diário de São Paulo (1929). É uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e resposta ao grupo Verde-amarelismo. A origem do nome movimento esta na tela “Abaporu” de Tarsila do Amaral.

  • 1ª fase - A revista está ainda marcada por uma consciência ingênua não muito distante da que informou o modernismo klaxista, apesar dos seis anos decorridos. Ela inicia-se com o polêmico manifesto de Oswald e conta com Alcântara Machado, Mário de Andrade (2º número publicou um capítulo de Macunaíma), Carlos Drummond (3º número publicou a poesia “No meio do caminho”); além de desenhos de Tarsila, artigos em favor da língua tupi de Plínio Salgado e poesias de Guilherme de Almeida.
  • 2ª fase - Mais definida ideologicamente, com ruptura de Oswald e Mário de Andrade. Estão nessa segunda fase Oswald, Bopp, Geraldo Ferraz, Oswaldo Costa, Tarsila, Patrícia Galvão (Pagu). Nessa segunda fase a agressividade de Oswald causou uma ruptura com vários colaboradores da Revista, como por exemplo: Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.

Os "antropófagos" passaram a direcionar suas críticas contra: à sociedade, à cultura em geral e à história do Brasil.

Confira abaixo uma crítica publicada na Revista de Antropofagia direcionada contra a Escola da Anta:

“SÓ A ANTROPOFAGIA nos une, Socialmente.

Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo.

Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos.

De todas as religiões.

De todos os tratados de paz.

Tupi or not tupi, that is the question.”

(Manifesto Antropófago)

Outras Revistas Modernistas...

  • Revista Estética (RJ - 1924)
  • Revista Terra Roxa e outras Terras (SP - 1926, colaborador Mário de Andrade)
  • A Revista (1925-1926)
  • Revista Festa (RJ - 1927, Cecília Meireles como colaboradora)
  • Revista Verde de Cataguazes (MG - 1927-1928)

12 de abril de 2007

LIVROS

O poder econômico e cultural da metrópole paulista favoreceu a uma geração de escritores e artistas que, unidos pela realização da Semana, acabaram se beneficiando, algo excessivamente, do monopólio de nossa modernidade. A Paulicéia desvairada (Mario de Andrade) enterra de vez o que poderia ainda subsistir de resquício belle-époque em algumas florações do modernismo carioca. Incorpora os sotaques populares de Brás, Bexiga e Barra Funda (Alcântara Machado), e, na literatura crítica do passado, se abre às contravozes de Oswald de Andrade, de Juó Bananére. 1922, porém, foi um palco; E muitos amigos de uma Semana tornaram-se inimigos da vida inteira.


Arlequim

Ilustração da capa do livro Arlequim, 1922, de Dom Xiquote, pseudônimo de Bastos Tigre (1882 - 1957). Capa e ilustrações de Correia Dias (1896 - 1935). A verve humorística de Bastos Tigre aliou-se ao traço de Correia Dias para juntos produzirem Arlequim. Curiosamente, no mesmo ano, um dos mais célebres livros modernistas – a Paulicea desvairada – também exibiria na capa as cores do arlequim.




Cobra Norato

Detalhe da capa do livro Cobra Norato, 1932, de Raul Bopp (1898 - 1984). Capa de Flávio de Carvalho (1899 - 1973). A obra, considerada a grande expressão poética do Movimento Antropófago, reelabora a magia dos mitos amazônicos, numa linguagem concisa, voluntariamente "primitiva", num fluxo discursivo em que estão rarefeitos os sinais de pontuação. A edição apresenta bonita capa de Flavio de Carvalho (1899-1973). Tiragem declarada, mas discutível, de 2600 exemplares, uma vez que o teto dos livros modernistas situava-se em torno das 1000 cópias.



Pau Brasil
Capa do livro Pau Brasil, 1924, de Oswald de Andrade (1890 - 1954). Capa de Tarsila do Amaral (1886 - 1973). Um dos livros fundamentais do Modernismo, foi publicado em Paris, com a famosa capa em que Tarsila do Amaral (1886-1973) estiliza a bandeira brasileira. A verve trocadilhesca de Oswald se estampa na dedicatória do exemplar: "Para o José Clemente muito grato pela sua clemencia".


Pathé Baby

Detalhe da capa do livro Pathé Baby, de António Alcântara Machado (1901 - 1935). A morte prematura interrompeu a trajetória de um dos mais promissores talentos ficcionais do Modernismo. Alcântara Machado, cronista exemplar da pequena burguesia paulistana, conjugava agilidade narrativa, vivacidade de diálogos, espírito crítico e bem-humorado. Pathé Baby – que reúne crônicas de viagem numa espécie de "cardápio" audiovisual -, primeiro livro do autor, foi bastante valorizado pelas ilustrações de Paim.



Paulicea Desvairada

Capa do livro Paulicea Desvairada, 1922, de Mario de Andrade (1893-1945). Um dos livros-chave do Modernismo, publicado no ano da Semana de Arte Moderna. Alguns de seus poemas foram lidos por Mario nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, quando da realização da Semana, e obtiveram a "consagração" dos apupos do público.




Cahetés
Capa do livro Cahetés, 1933, de Graciliano Ramos (1892-1953). Em larga medida, a ficção regionalista de 30 foi antimodernista, retomando o diálogo com a linhagem romanesca do século XIX. É o caso de Cahetés, estréia de Graciliano Ramos, sob forte e admitida influência de Eça de Queirós. Este exemplar possui alterações manuscritas do autor, inseridas em edições posteriores.